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sábado, 27 de janeiro de 2024

Epifânia

È diferente de felicidade

esse fogo fátuo

È simplesmente diferente

parecido a uma satisfazão duradoura

que não é minha

nem tua

mas que nos atravesa como uma onda

Epifanias não são algo que se merece

É da ordem do destino e dos encontros

sábado, 13 de janeiro de 2024

Ilustre Poeta

O poeta é um ilustre desajeitado

Cidadão honorário do esquecimento

Médico de desgastadas almas

Advogado de causas infindas

Equilibrista sem corda nem circo

Palhaço do espetáculo citadino

Especialista no desabandono

de coisas inúteis e de horários perdidos

Assim como bombeiros, policiais e enfermeiros

Sua atividade é de primeira necessidade

O poeta dá cola nas finitudes da cidade

Cada corpo, cada pedra e arbusto

Fio de cabelo, inseto ou passarinho

cabe na cidade pois existem poetas 

Fazem de tudo para que o todo

não desmanche no ar

A olho e a dedo compõem 

as regras versadas de uma ética prática

Constroem invisíveis edifícios e alamedas

onde o impossível é vizinho do possível

O ilustre Poeta é versado em convivência 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

República de Estudantes: Na fronteira da poesia e da política (Capítulo 3)

Logo ao iniciar o curso de Psicologia na Universidade de Brasilia, alias minha segunda opção, uma vez que não passei no teste específico de arquitetura, me dei conta que eu poderia ter uma qualidade que já começava a ser falada: a interdisciplinalidade começou cedo. Eu realmente gostava de ler livros de psicologia (de poucas páginas de preferência). 

O primeiro foi um livro de capa amarela, de um obscuro autor D.Kaplan e um ambicioso título, "O Ser Humano", que eu havia pego emprestado na biblioteca da entrequadra 108/308 sul em Brasília. Nessa biblioteca nos intervalos de estudo para o vestibular eu acabava lendo pouco a pouco o livro "O Obvio Ululante" de Nelson Rodrigues e também livros de budismo. Foi na biblioteca da 108/308 sul, que eu ganhei o ganhei o meu primeiro prêmio de poesia. Um honroso terceiro lugar.

Escrevo essa introdução para dizer, que ao desistir da Psicologia na UnB depois no terceiro semestre, e cair de paraquedas na minha terceira opção, Quimica onde fiquei mais 1 semestre me dei conta que gostava de tudo um pouco. No departamento de Psicologia da UnB já desconfiando que ali não era meu lugar me inscrevi numa terapia vocacional de grupo oferecida por uma professora. 

Ao final de três meses, com sessões individuais e em gruppo, a tal professora me chamou para conversar e disse: "Parabêns, você pode ser oq ue você quiser: você é pluriapto". Desolado e ainda hipnotizado com o nome me descria meu problema "Pluriapto" mudei de foco: não quero escolher um curso quero escolher uma universidade.

Depois daquela eleição entre os candidatos Lula da Silva e Coller de Mello comecei a ouvir, de forma cada vez mais frequente, o nome: Unicamp. Dai para alguem me emprestar o livro Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paixa foi um pulo. Animados pelas aventures e desventuras do jovem Marcelo Rubens Paixa, fiz meu preparativos para o vestibular. Um colega do secundário já estava na Unicamp, e me enviou o catalago de cursos. Li o ctálogo de cabo a rabo, e escolhi o curso mais interdisiplinar e que me permitisse a tal pluriaptidão. Me inscrevi para o curso de Engenharia de Alimentos, e passei no vestibular.

Consegui hospedagem na casa da família de uma médica, que era de Campinas, e trabalhava com minha tia, também médica. A família me cedeu gentilmente seu apartamento na rua da Abolição, no Bairro da Ponte Preta enquanto a Unicamp terminava a construção da moradia estudantil dos Estudantes. Morar com centenas de estudantes de diversas áreas no mesmo local me pareceu destino proximo das frases da psicologa vocacional: "Você pode fazer o que quiser que será bem sucedido".

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Natal

Natal é um caixinha de surpresas

do planeta Terra

Nela, tudo lembra a beleza de estar

passageiro do planeta azul

A curvatura do mar me leva

para Dakar no Senegal

As dunas infindáveis

que permitem a cidade

estão no fundo de um mar ancestral

Natal sem saber

esta submersa no tempo marinho

É terra de mar

Um dia ele voltará

Esta subindo pouco a pouco

A cidade avança adolescente sobre ele

Não dura muito o burburinho 

A Terra sente cocegas

permite a brincadeira, a traquinagem

displicente com a grandeza...

Não demora, tudo acaba

Seus prédios serão casa de peixe

Suas ruas cobertas de corais

No tempo dos planetas

Natal é bela

um encanto leve

mas já passou

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Sonidos de Buenos Aires

Adentro o afuera

Sucio o limpio

El sonido se queda claro

o no soy quién supo...

Cuando adentro é sucio

nadie se puede creer

en el que está limpio afuera

Cuando está sucio adentro

locura afuera

o sanidad silenciosa

Adentro, adentro siempre

me queda la alegría

de saberme limpio

y listo

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Brasília Livre! (para o poeta Marcos Fabrício)

I

Na primeira noite do ano 

de 2024 do calendário cristão

Sonhou o poeta 

que liberta seria a cidade de Brasília 

O mel prometido da profecia

era a água pura que jorrava

nos lagos Paranoá e Descoberto

onde todos se banhavam


II

O leite divino da liberdade

contagiante essência da cidade

era distante dos desejos da Europa

de colônias, e metrópoles

Brasília era uma entidade autônoma

de um governo que não nasceu ainda

Capital de si mesma

irmã da natureza


III

Como na queda do regime soviético

monumentos derrubados

para dar lugar ao Cerrado 

Um novo hino seria composto

por músicos e poetas da cidade

Os pássaros azuis de Athos Bulcão

na nova bandeira pintados

tremulando na torre da cidade


IV

O poeta incrédulo no sonho via

Águas das chuvas canalizadas

em dezenas de pequenos lagos

renascendo veredas por todos os lados

O avião símbolo de Brasília

daria lugar a estrela brilhante

raios de luz nas direções cardiais:

norte, sul, leste, oeste


V

Circulará o dinheiro social 

onde dele se precisa

A moeda da cidade é o talento

de valorizar uns aos outros

O mais famoso bar, o Beirute

enfim socializado em forno público

distribuindo esfirras e salgados

como em Cuzco no Vale Sagrado


VI

O tempo ufanista foi silenciado

nascerá o tempo de Brasília: 

o presente do futuro

A cidade criará inovações para o mundo

Arquitetos de todo o planeta

completariam as obras de Niemeyer:

tetos, paredes, passarelas verdes 

para os prédios de Brasília


VII

Os ministérios cada qual ao seu jeito 

transformados em galerias e museus 

Como em Washington mas de ingresso livre

facultado a todos do planeta

Cada cultura da Terra

em Brasília teria sua rua

Do Cairo, cafés e narguilés

onde os habitantes relaxam


VIII

depois de um dia de trabalho

Da Nova York do jazz

vem a tradição do respeito

a todas as diversidades

De Lisboa e seus ateliers abertos

onde a arte é ensinada 

À noite a cidade pulsava

encontros de antigas nacionalidades


IX

ofertando sonoras novidades

O poeta de Brasília não queria

que o sonho acabasse 

Enfim, entendia Dom Bosco

que sonhará com a cidade

os milagres presenciados nasciam

das imaginações de seus habitantes

impulsionadas por avançada tecnologia


X

Uma voz onírica lhe confirmou ao final

que se Florença foi da renascença o centro

Brasília seria o futuro do futuro

inspirando todas as cidades do mundo

Os povos da Terra 

aqui teriam descanso e criatividade

Brasília será o centro de gravidade

da reconstrução da humanidade


XI

Antes que forte raiasse o dia

o sonho desvanecendo 

o poeta na mais densa alegria

tomou coragem para contar o que via

A cidade resplandecia

diante do poeta acontecia

a mais linda metamorfose:

Brasilia livre!




segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Voltar à Brasília

I

Meu futuro é como as sombras enfumaçadas

projetadas na cúpula da câmara federal: 

luz trêmula e uma idéia inconclusa de país

Adeus Brasil! Adeus Brasília!

É preciso rever o plano

do sonho ufanista e arrojado

da construção da nova capital:

local perfeito para pousos e decolagens


II

Tem até formato de avião...

Me leva daqui 

Sou rapaz cordato e sem vícios

O doutor disse a meus pais:

é menino de QI elevado

precisa dos cuidados

de ciosos franciscanos 

disciplinados militares


III

Brasilia férvia em seu destino

não queria ser apenas avião

Uma rampa de asfalto e concreto

do lançamento de leis e intenções

para o futuro da nação

As nuvens reverberam as cores

do crepúsculo em chamas a mensagem:

"Brasília ainda vai te levar além"


IV

Quero voar leve como os pássaros

azuis de Athos Bulcão

Mas voei para São Paulo

Depois escapei para a California

Não havia outra opção:

ser esmagado pelo concreto de Brasília

ou voar sem lenço nem documento


V

para sonhar de novo com Brasília

O crepúsculo no fim da tarde anuncia

o novo que nunca chega

Seria Brasília a terra do nunca?

A terra do quase ou do transe?

Tinha mesmo é que ser a capital

do país do futuro, o Brasil

como disse aquele general francês


VI

Passei pelo Rio de Janeiro

para estudar os restos de uma capital

O que nasceu no lugar vacante

da cidade maravilhosa?

Abracei o Corcovado e a Urca

para sentir-lhes a pulsação

Me ajudem a desaprender Brasília

libertá-la do peso da nação


VII

Se planta não nasce no concreto

deve nascer outra coisa: música e arte

Minha vida imaginária em Brasilia

caminhou dos versos de Leminsky

para as letras do "Punk" em português

Corria pelas superquadras esquecendo

de detritos federais

da tortura, das perseguições da Ditadura


VIII

Preciso sair daqui

Preciso escapar daqui...

Eu, nós?

Precisamos sair dessa

ir para outra...

Mudaremos de Brasil?

De que adianta uma plataforma 

rodoviária de lançamento?


IX

Precisamos de muitas cabeças:

Renato, Sivuca, Hermeto, Egberto

Os cabeças, onde estão?

Vamos mudar de Brasil?

Ou, vou mudar de cidade?

Eu desconheço Brasília

de uma ponta da asa sul

até a ponta da asa norte


X

A gente não muda nada

nem a vida das satélites

Cansadas de esperar

seguiram outros voos planetários

Somos um bando de bundas-mole!

Vou florescer em São Paulo

Adeus "Feliz Ano Velho"!

Feliz ano novo!


XI

Sampa é outra pegada

Os bandeirantes usaram a terra de Vera Cruz

até sobrar apenas uma Pindamonhangaba

Ali nada para, firma, sossega ou dorme

Sampa me convidou a seguir viagem

Será que um dia vou aterrizar

no aeroporto de Brasília?

Trarei pacotes de jujuba

mandigas e olhares diferentes


XII

Meu futuro nas sombras e vultos

refletido em movimentos disformes

Aonde foi parar Brasília?

Em um labirinto de dizeres?

"Você nasceu, e tudo isso já existia"

Minha Brasília á espera

de invenções e milagres

sonhados por Dom Bosco


XIII

Em 1883, o padre canonizado

sonhou com leite, mel, e Brasília 

Na primeira constituição da República 

Brasília não se faz de rogada:

"Construir-se-á a nova capital

no planalto central brasileiro"

Para o futuro, rumou a expedição Cruls 

Tem pés de barro o anjo da cidade?


XIV

É concreta a santidade de Brasília?

È para isso que seus filhos retornam?

Se Brasília não é o futuro ainda

é o que então?

Brasília é um laboratório 

de emoções, magias e mazelas 

que dão caldo, e comida boa

no Beirute: o bar encantado


XV

Em 1966, a nave pousou na 109 sul 

Seus tripulantes dia e noite conspiram 

para que o futuro logo chegue

Vem Brasília!

Ser berço de uma nova civilização

plural, criativa e atemporal

Mas Brasília vive de futuro

para o qual sempre retorno


XVI

Seria o eterno retorno de Nietzsche?

Eu inventaria Brasília de novo?

Os portugueses acertariam o leme

indo parar nas Índias dessa vez?

A evolução precisava de uma ideia de futuro

A ideia tinha que ter corpo e um nome

Que tal corpo de avião e nome de árvore?

Prazer, Brasília!


XVII

Adeus, Brasília!

Até a próxima!

Só depende de você perder o medo

de desver o plano 

reconstruir sua história

Quando estiver para nascer o futuro

eu volto para ajudar no parto

do nome, do corpo e da ideia






Gastronomia e Poesia

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