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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Anatomia Poética

Vou pegar do punhal
Vou rasgar de fora a fora
da goela ao pé
passando pelo cóccix
abrindo do externo ao umbigo

para separar entre tripas e bofes
vestígios de palavras
Buscar a essência
como em Spinoza, Goethe e Hegel
mas á moda medieval

Ir ao amago
onde mora a verdade
entre vasos, ossos, peles
Catar letras e onomatopeias
jogar sobre uma mesa fria de mármore

espalhar as partes todas
para encontrar a origem
a inspiração
a fagulha da poesia
Esquartejar á moda dos anatomistas

para entender esse mistério
de existir e comunicar
Letra por letra
cada tipo de som
O corpo assim decomposto

em partes menores
pode ensinar que as partes juntas
são menores que o todo
que as letras são menores que as palavras
as palavras menores que os gritos

os gritos menores que o silêncio
Assim desfeito o corpo
como faria Da Vinci
sob a inspiração de Descartes
revelaria que tudo isso junto

nunca sai de moda
Sempre uma surpresa
um espanto
o que isso tudo soa
como uma caixa de sons

de ossos
Tudo isso junto
mais que corpo
talvez  alma
comunica-se com o insondável

anda pela rua
acorda e vai comprar pão
mas no fim do dia (ou no meio)
um sol pode surgir no fim da avenida Consolação, São Paulo
para que tudo isso, ou quase tudo isso, seja feliz

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Clima


O clima mudou
ficou sem clima
para quem sempre se deu mal
Ficou pior mas ainda não é com a gente 
Mudou o clima mas o desenvolvimento é sustentável:
tem de sustentar quem consome
A produção não pode parar
tem de apoiar tudo isso ai
Precisa certificar as boas praticas
as que não poluem tanto...
Coloca selo ai:
pode ser verde, amarelo ou azul
Etiqueta aquilo que é bom 
Vamos ocupar outros nichos
Vamos buscar o melhor clima
quando este ai colapsar
Se o mar encher
venderemos casas na montanha
Se a montanha secar
aumentaremos os preços da planície
A gente vai sempre ganhar
não importa que clima for
Controlamos as finanças e os telefones
se o clima mudar de repente
Queremos saber bem antes
para vender na maré baixa
comprar na maré alta
Mas o clima não mudou tanto assim
Vamos ganhar dinheiro as turras
até o clima mudar
Vamos vender mais: 
refrigeradores de ar
purificadores de solo
limpadores de água
Vamos faturar!
Telões nas fachadas dos prédios
com belas imagens naturais
Vamos faturar!
Cachoeiras artificiais nos shoppings
para satisfazer necessidades ancestrais
Vamos faturar!
Mas se o clima mudar de vez?
Construiremos uma nova Arca de Noé 
para vender a salvação espacial:
Marte será o adorável mundo novo
quando o clima mudar de vez
Vamos faturar!

terça-feira, 3 de setembro de 2019

A minha São Paulo


Vou fazer um poema do tamanho de São Paulo
para desaprender São Paulo
para criar outra São Paulo
1,2,3...
Uni, duni, tê
Mais um dia se passa
com cadáveres boiando no Tietê...
Não é possível!
Até o impossível é possível em São Paulo
São Paulo tem um shopping de brinquedos
Tem loja de boinas
Tem bar de coxinhas
Comida da Austrália
Qual a vantagem, São Paulo?
Ela ri com seus dentes de ouro
São Paulo e seus bandeirantes
Só uma pergunta a São Paulo:
“Por quê?”
São Paulo emudece...
“È que acontece...”
Tudo acontece em São Paulo
mas ninguem tem saudade
quando sai da cidade
São Paulo é metamorfose
São Paulo é de veneta!
Cada rua é um município, cada bairro um feudo
Avenidas são pontes entre os mundos de São Paulo
O futebol funda a nacionalidade
Cada religião entrega a espiritualidade
Posso escolher, São Paulo?
Quem não te conhece que te compre
São Paulo se revende e fica rica!
Seus rios pastosos fluem lentos 
como seus engarrefamentos
São Paulo não é flor que se cheire
Engoliu a floresta e cuspiu concreto
Demoliu montanhas e chamou de prédios
São Paulo é sedutora!
Mil caras e bocas...
Dragão da Maldade!
Vou-me embora de São Paulo
Aqui não sou amigo do rei
nem terei a poluição como fiel companheira
Adeus, São Paulo!
Um dia eu volto para a minha São Paulo
de geografia particular e sinuosa
Tem mata, livraria e biblioteca
comida boa e barata
Tem amigos e poetas planejando 
a tomada da bastilha paulistana
Tem o dia da verdade
com microfone aberto na paulista
atrapalhando o trafego

Minha São Paulo expressa a dor
de não ser tudo que é
Começa ali na augusta dá um salto
emenda com o capão redondo
amarra todos os estádios de futebol
de todas as escolas de samba
para celebrar o dia da lingua livre
em rap, em prosa, em todos os acentos
Cantareira com os Jardins
Alameda Santos de bicicletas
Butantã na divisa com Parrelheiros
Cidade Tiradentes com Morumbi
Minha São Paulo tem novas divisas 

É policêntrica minha São Paulo

Gastronomia e Poesia

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