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domingo, 30 de agosto de 2009

Bolivia

Where is the most poor country
where Che Guevara finally planted his heart?
I see the jungle and its green peaks
where Incas had also planted and thanked
just like me now...

imigrant

his dignity
puts teeth on
his toothless mouth

Amazon

the mother of sweet waters
flying through castles of clouds
the white Amazon
the green one right below
feeding each other
pumping a huge artery

Deforestation


desperate hands asking for help
Cows witness Brazil nut trees
crying

Corn

Baked tamales made by corn
Helped me with my hunger
crossing the Bolivian jungle
Frighten,
the poor girl got in the bus
selling them...
She gave me a poem
but she will never know

salvador, bahia


all black colors
all shapes tastes
smells and places
tonight
all black salvador lights


toda los colores del negro
toda las formas y sabores
olores y hogares
esta noche
todas las luzes negras de salvador


todas as cores negras
todas as formas e sabores
cheiros e lugares
esta noite
todas as luzes negras de salvador

longe de tudo perto de mim

longe de tudo
no meio da floresta
numa longínqua fronteira
longe de tudo no centro do rio de janeiro
na glória
no alto da montanha
respirando o pouco ar de Cuzco
disputando espaço na avenida paulista
defendendo-me dessa língua enrolada
nas ladeiras de San Francisco
longe de tudo perto de mim
perto de tudo longe de mim
esse descompasso internacional
essa ânsia de não viver este sol
ainda vai me levar para bem perto de tudo
longe de mim
no mais longínquo dos paralelos
onde o ar se esquiva e a neve espreita
leve
nesta atmosfera de chumbo do Harlem
muito próximo da baixada fluminense
onde o futuro é o fruto mais doce
Pertinho do corcovado
caminhando na aldeia mutum
a Golden Gate ao longe
como se Santa Tereza fosse califórnia
bem perto
nas planuras dos altiplanos bolivianos
eu conheço bem essa Brasília
essas montanhas andinas
demarcam os caminhos do meu coração
bem perto de mim

poemas do acre

olhos da floresta olhos pequeninos: passarinhos que inveja! como são bonitos estes índios... Rápido perco a vergonha do que sou de onde estou de quem nasci: como somos bonitos! Do alto Triângulos e trapézios gigantes Quadrados irregulares Polígonos de poucos lados Circundados pelo caos esverdeado de incontáveis lados, inumeráveis ângulos Indescritíveis formas de misteriosa simetria Fazem a geometria se envergonhar de seu rigor matemático diante de bovinos alunos

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

atabaques



atabaques baianos
vários sóis queimando:
o calor é humano
Os edifícios fingem que nada veem
Calados ouvem os gritos no oitavo andar
Não se movem um milímetro
A noite coagulada de expectativa espera
A moça grita
O álcool gira, gira, gira...
E tudo continua extremamente normal

Tsunami


A água foi tanta
que transbordou nos olhos da mulher do Sri Lanka
Há mais mistérios na Terra
do que os atribuidos aos deuses e aos homens?
A água foi tanta
que transbordou dos olhos da mulher do Sri Lanka
a luz vem pelo fio
a chuva derruba os postes
mas não molha o telefonema
nem os fonemas
eles se propagam no ar
água, luz e som são irmãs inseparáveis
que não se misturam...
Nem tudo fica molhado
pelas goteiras deste quarto
sou o que sou!
Até que algo em mim
aquela velha no fim da rua
prove-me o contrário que também sou
so, my soul!
Último sol de primavera:
Eu e o calango
fotosintetizando
no varal de roupas
o besouro equilibrista
mostra o show da corda bamba
para a platéia de plantas e ervas boquiabertas
No dia da minha morte
eu não vou ser convidado
Vou ser o penetra indesejado
em meio a prantos tantos
dando gargalhada da desgraça alheia
Alias minha
Mas dia menos dia a gente acaba
Fica leve, flutua e vê como se fosse meio-dia
que o ar que se respira
é essa magia
é essa pouca coisa
que mora nos pequenos gestos
e se confunde com uma vaga alegria

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Be unhappy
Be unhappy
If you sing at work
you will be arrested...
I know what I have to do
Of course, I know
what I have to do is in my deepest core...
Mirrors only let me see the surface

GM trees

The genetically modified trees will produce
more oxygen and less carbon dioxide...
They will be squared!
there is a constellation of pears in this basket:
stars shining in their sugar

1969


The Apollo 11 finally realized
the moon was a pretty ugly place
But it has served as a huge mirror
for our wonderful dreams and passions
It´s so difficult to accept easy things
I studied complex systems
high-tech theories about the big-bang
I researched the French revolution ideas
the first man’s bones
It is so difficult to believe
life is easy, isn´t it?
The word “power” still fascinates me
Is Life a puzzle?
I never liked puzzles
North America:
Three cows three horses three geese
where thousands and thousands
and thousands of trees should exist
I rested my body over time
From a past so present
at that beach on the Pacific ocean
each second was a grain of sand

Autumn


The fall falls on my head
The wind says to my heart:
leaves, leaves, leaves...

Golden moon


The enormous full moon
rips the sea
opens the night
In light,
she strips the metal
and throws me a curse:
“You will be always my lover
on the Golden Gate bridge”.
Não fica triste
que o leite derramado
não vale o sono que se perde.
A vida tem dessas coisas
hoje beija amanha talvez
a gente esqueça
A chuva cai
o besouro voa
a vida da gente é ficar um pouco
nas coisas do caminho.
O resto é o fim
O fim do dia e a noite
O começo do sonho.
Me sinto passado
Prazo de validade vencido
Fugir, impossível
Minha sombra me persegue
Sonhos tive muitos
Infernos tantos que se confundem
com o calor desta sala
Faço poesia curta da minha pouca pessoa
Ouso ser lido um dia
No mínimo que este papel seja reciclado...
E no meio da briga dos meninos
a menina conciliadora clama:
“Gente vamos deixar de ser criança!”
E continuaram brigando.

Todas as cores de São Paulo


Cinza por cima e por baixo
O asfalto no céu e na terra
Turquesas, laranjas
Verdes, rosas, negras e azuis...
As pessoas te vestem
apesar de tua pouca beleza e saúde debilitada.
Sorria, São Paulo
És amada!
Uma bactéria ao ver o brilho de um olho ciclope
a investigar-lhe a intimidade no microscópio.
Perguntou-se com seu QI de ameba
se não haveria vida em outros planetas.
Um sentimento de que ela e suas irmãs
não estavam sozinhas no universo invadiu-lhe o espírito.
Solidão macroscópica
que volta e meia abate os seres microscópicos.
a tarde cai de cinza
o pássaro solitário espera
pousado no fio de eletricidade:
Velhos amigos do passado
agora casados

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

To accept the invisible in my life
it is a thing I would like to see...
The time goes by
I don’t get ripe in my core
There is still an open space waiting
For some incomprehensible reason
I am still there waiting
Floating in my grand dream...
Sometimes like today
I hope the strawberries's taste will wake me up
What does she want to hear?
Stories about births?
She wants to be pregnant of new ideas!
Run big bird
my city is waiting for me
Run ripping the sky
those enormous dolphins holding its wings
Please, smoothly run sliding over the clouds
I am waiting for myself
Just run
I am happy to be fully back to me
Hips hide a special secret.
Deeply in the flesh
something laughs cries shouts...
I wish to talk with all this.
They got old in me this year
I heard the stones saying:
“You are part of the landscape”.

2000


No ínicio de um novo milhar
O número um ou dois ou trés
Podem ser de erro e engano
Tudo bem...
Têm-se um milênio inteiro para começar de novo
E quando se vê do início
Ilusão e fascínio de tantos zeros
Vive-se a festa ilusória
de fogos redobrados em copacabana
E assim como cortamos zeros adoidados
de nossas moedas quilhotinadas
acrescentamos zeros na data
para contar de trás para frente
a historieta do país do futuro

download failed

a dor
a sofrimento
todos os gritos
as contrações musculares dos maxilares
dos refúgiados africanos em campos de contenção
não estarão disponìveis para um rápido download em seu pc
Ramagens sobre o gato preto
De porcelana brilha
O sol da tarde
Esvoaçam borboletas
De tecido e nuvens
Dentro da caixinha de música do domingo.

Passeata


A esfera negra rolá no esfalto
Não é bola de meia rolando
nas ruas azuis de minha infância
Na avenida paulista
A pequena bola negra corre
A gente corre dela
Ela explode
e atrás da gente
a violência

Alice

Lá longe do lado de dentro
Uma música aveludada vem de fora
pinta de Pink Floyd
uma pequena casa de minha memória
Uma mulher e suas tristezas
Uma alice longe de um país de maravilhas encontra
Um coelho perdido perguntando o próprio nome

Mulata


Detrás da batucada
Nas entrelinhas de um gingado
Na aparente leveza da passista
Vai um peso incomensurável
Civilizada se dança
Se inventa sábia
Impavida inatingível
Do alto dos saltos num sorrizo franco
Marcas na face dizem que o samba é dor
que se gasta nos cascos nos sapatos
o melhor combustível do amor
Prima donna mulata mia...
É bonita, é bonita, é bonita!
Depois de tudo (ou de nada)
Arfando no final ou no início da jornada
Tudo é ainda discurso
terrível dizer que ainda me fascina
as equações de Einstein
me seduzo
pelas engenhosidades filosóficas dos europeus
Me impressiona o peso dos livros
Suas milhares de páginas, as bibliotecas
Contudo as igrejas
essas realmente me põem medo
As de direita e de esquerda
Marx me amedronta mais que Jesus
que contava parabolas e historias de amor
Então, olha eu aqui de novo
Eternamente começando
num vasto mundo
mais vasto que o meu coração
A boca não se deu conta
da verdade que anuncia
Cristalina!
De beleza se veste
o silencio de Cristina.

Montanhas Russas


Que estranha obsessão me liga a tua alegria?
Faço papéis vulgares
Sou teu figurante
Para que serve então a utopia?
Serve para tanger o sonho
Confesso:
Amo o que se transforma em ti
Em tuas metamorfoses, quando vais trocar a casca
apareço para partejar tuas novidades
Mas quando te contentas em ir vivendo
quixotesco e ávido de batalhas
sinto-me desnecessário e sumo
Volto quando você se revoluciona
E te trago um livrinho do Jung
te mostro as últimas fotos do Chê
Mas tenho medo mesmo
de você se revolucionar por inteira
achar minha poesia sem graça
meu verso comportado, rimado e minha vida
mais boba e sem sentido do que ela é
Não sei viver tua normalidade e nem você a minha:
Somos apaixonados por montanhas russas
To decide not to fly to a bird
It is always a hard decision
Its wings will push it unceasingly
To rethink
to re-fly
Forgiveness, a spiritual lifting
makes lighter my soul.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Oak


It wasn’t a tree that rooted itself
on the ground
It was a root demanding the sky
Suddenly, I realized
The best surfer is a seagull.

Junction rap

Race?
I want to see the shine of your eyes.
Nationality?
I enjoy watching your body shaking.
Racism?
The sounds have no colors.
The window of my tiny room is a sad TV.
I would like to be a Brazilian window
in this alien city.
fucking complex
fucking complex
fucking fucking complex
fucking fucking complex
fucking AMERICA

Porter College

A huge red metal wing.
A girl and a bird on it.
The girl wants to fly
the bird just passes by to teach:
Each one flies with its own wings
on under through behind besides
ideas about liberty.
An essential talk exists between sky and sea.
Unfortunately, we can’t figure out
what they’re talking about.
The language of stones is the same in the whole world.
I am fluent in the nature’s silence.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Uruguayana 1909


seus olhos me saudam
bem vindos de um passado distante
me acenam um futuro iminente
veem de longe e no momento exato
o imemorial encontro
"vejam só! retornas ao nosso rio de janeiro"
minha alma encarnada caminha
se alegra de encontrar-lá novamente
os olhos, os mesmos
nas solas dos pés
as calçadas reconhecem traseuntes vivos e mortos
memorias curtidas ao sol
desenhadas no granito
uma alegria crepuscular umidece o ar
Os séculos não apagam o elã de Uruguayana
Rua bem assombrada

Vozes do Brasil


sabe com quem está falando?
tem jeito não...
é desorganizado mesmo
a gente vai levando
é sol o ano inteiro
tudo acaba em samba
isso é que é vida
que gente bonita e que clima
alguém me ajude
levaram minha bolsa
roubaram meu carro
alguém chame o médico
mataram meu filho
deus é brasileiro!
melhor país não há
em se plantando tudo dá
sem ordem não há progresso
justiça só para o rico
o mundo é dos espertos
só é pobre quem não trabalha
lugar de bandido é na cadeia
é o país do futuro...

sábado, 15 de agosto de 2009

Arab eyes


Who is paying attention to this secret game?
So far, in another planet those eyes talk
The game goes on trying, striving, touching
The next dream got lost on the next corner
Cars putting a heavy cloud in the air:
The oil price, the dollar price, the religious fights
Whatever happens those eyes play the essential part of life

Réquiem para uma garça

I
A garça é uma dama belíssima
Mal se percebe
suas pernas finíssimas.

II
Árvore não têm acento agudo no A.
Têm uma virgula na copa:
Uma garça.

III
Dois homens pescando.
A garça observa:
os peixes.


IV
A garça dissidente
Isolada se sente
Na assembléia dos patos
Brancos e Pretos.


V
Uma flor branca parada derepente
Se lança e pesca um peixinho.
Que garcinha!

pt: saudações

tem coisa sem nome
coisa que emociona
de nascença
de beleza danada
orgulho é dizer
quem é o pai ou a mãe
avô, avó, tia, tio, sobrinho
toda a família jurando
que fez, que fez, que ajudou
no berço
no teto
no chão
coisa tão necessária
que já existe na imaginação
só precisa de um tempo
para desaguar nos corações e mentes
coisa assim que não têm dono
como a terra
dela só se pode colher os frutos
tal coisa é de todo mundo
feita com todo cuidado
para ser o rosto de cada um
de seus milhares de donos
como roubar a justiça e a liberdade?
coisas assim nunca acabam
são concretas
no sentimento da gente:
são urgentemente necessárias

Economistas

Pense nos economistas
E seus discursos exatamente inexatos
Pense nas crianças que neles persistem
um pouco envelhecidas de tanto cálculo
De tanto brincar do o que é o que é
que mais demanda oferta lucra ganha perde custa.
Encarceradas em expressões amortecidas
De cabeleiras já ralas de falas medidas
nada me dizem das rosas e das hiroshimas
De mim excede só os poemas sem juro
Que contam um pouco destes absurdos
nas entrevistas de ilustres especialistas.

Bukowisk poem

há tanta ciência nestes biscoitos
nestes dias que passam
que ando pensando em como somos privilegiados
em ter estas coisinhas sempre fresquinhas
enquanto helicópteros da policia
sobrevoam a cidade fazendo controle de qualidade...
há tanta ciência nestes dias em coisas mínimas
que nem me passa pela cabeça
perguntar se a ciência tem respostas para os grandes dilemas
Claro que têm (ou não?)
Tudo acontece em seqüência
Tudo conectado.
Pode terminar em cadeia e morte
O pobre menino abandonado
Tudo ligado
Se o cachorro morde o gato
amanhã pode amanhecer nublado
Tudo feito dominó emendado
a pedra cria ondas no lago
que vão dar do outro lado noutro largo
Um grande sinfonia
Um enorme caos exato
O paciente segue
carrega consigo mazelas antigas e repentinas melhoras
Uma dose de realismo e duas de carnaval
Fazem o Brasil trágico e mágico.
A caravela brasileira segue fazendo água
descobrindo um litoral de espantos.

Êxodos (para Sebastião Salgado)


I

O trem da vida
Pode bem ser o trem da morte
Tanto trem atravessando a vida
Da próxima vez eu vou voando para Bombaim.


II

As lagartas de aço
Cospem gente, cospem gente
Nas ruas das cidades a vida explode
empurra, urra, morde
Sem espaço para sorrir.



III

Milhares de prédios
Milhares de carros milhares que nascem
Milhares que morrem
Tudo aos milhares
E que São Paulo os abençoe.



IV

Quando descer
no aeroporto kennedy
Não se assuste
Como o tamanho dos edifícios
E o inglês tão complicado
você traz em seus olhos e genes
a grande mãe Rússia.



V

Qualquer lugar na Africa
Lugar de aprender
A velha arvore e sua sombra
Ensinam a ensinar



VI

Por trás das nuvens carregadas
Sempre um sorriso.
A vida sorri com a perna dilacerada
nesta Angola minada.


VII

Na dura caminhada andina
Deleite ter montanhas como companheiras.



VIII

Quando emigra o homem dos andes
Choram mulheres, crianças e lhamas
Sua masculina presença


IX

Ergam os braços e foices companheiros
Galhos carregados de alegria e esperança
Cheios de histórias e sementes para plantar


X

Pelos menos os lixeiros sabem
Que os moradores de rua
Não são lixo
Viver no corpo dos sons
Encarnar nas palavras:
Alma de poeta.
No varal de roupas
o besouro equilibrista
apresenta o show da corda bamba
para a platéia de plantas e ervas boquiabertas.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

American boy in Afeganistan


O garoto americano aterriza noutro mundo.
Quantas caixas de leite e de cereais
quantos litros de suco de laranja, hamburgers and movies
separam este de outros meninos crescidos no Afeganistão?
O viajante das estrelas e sua bandeira norte-americana
sua capa blindada sua espada afiada se pergunta:
"Aonde estão os homens maus?"
Onde não há o mal não se necessita do bem...
Nada ali se assemelhava aos filmes
as terríveis histórias dos generais
O garoto nada encontra e descobre em si
o mal que acabou de chegar

11/9/01


Boings despejam bombas sobre o Laos
Boings bombs bummmmmm
Se arremessam contras as torres de Nova York.
Alerta Nacional!
Uma criança morre de fome no Brasil
Um prefeito é assassinado
Outro assalto e boings saltam pelas janelas
Pânico na terra do bolo de queijo
Holywood foi vista nua e sem a dentadura.
É probido cortar o bife com faca de plástico
É proibido dizer a verdade
É proibido ser árabe.
Destruam os Boings.
Caçem os gênios do mal!
Boings despejam cem hiroshimas sobre o Vietnam
Boings contra-atacam no reino da liberdade.

Brincadeira emocionante (para Magrão)

Vibram as emoções
Um trabalho de gerações
Ancestrais e contemporâneos tocando juntos
refinando uma brincadeira humana...
Quebrando tudo
em notas, cordas, couros, teclas
Quebrando tudo em mim
o que ainda me impede de ser
livre como os sons
A musica fácil de letra rimada
é o açúcar na boca de quem trabalha muito
e não ganha nada.

Afinal, o que Jack Pollock quer dizer?
“Não encha o saco deixa eu viver ”

Frida kahlo se faz pequena
para seu Diogo Rivera:
A grandeza dele é dela.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nariz


rocha
clava
cunha
ponta de iceberg
sulca o solo de teus avós sefaradins
cava o dia
te mete aonde deve
não deve, não page
fuce e semeie a noite
Feliz:
teu impávido nariz
Caco de vidro verde
Pedra polida na areia da praia vermelha:
Arredondar as pontas é da natureza da natureza.

Que montanha!
Que morena!
Que Urca!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Localmente

Seu escopo media-se em ruas
Sua estratégia amigável
Uma presença tranqüila em seu pequeno território
Conhecia a todos mas difícil de catalogar
Era tão dali que podia ser de todo lugar
Seu Zé do Cantagalo era assim indefinível
Diplomata e bamba de viola
Incontáveis são as historias
em que evitou guerras e prolongou períodos de paz no local
O velho desconfiava dos muito letrados.
Ontem acompanhado dos amigos mais próximos
Descansou ali mesmo na subida principal
Viúvo e sem herdeiros escolhidos
Seu ultimo e derradeiro ato
Foi doar o barraco para associação de moradores.
Quem por ali passa e ouvi tudo isso
Jura que o velho ainda anda por ai
Pedindo aos meninos que não furem as árvores.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O azul do céu seca
as roupas que acabei de lavar.
No varal vibram notas de Mozart.
cada pessoa
o centro do mundo
a terra
uma esfera
mulheres negras:
só o sol sabe sua força
Da terra brota a fibra
do nosso five pockets jeans.
Palmas!
Palmas para o algodão que ele nos veste.
Papoulas do Oriente.
Vocês nem sabem mas são
a fantasia comprada nas veias do ocidente.
Crepúsculo:
Queimada ateada no céu pelo anjo carpinteiro.
Queima lentamente o dia inteiro
no final este braseiro de estrelas.
No sarau de poetas inéditos
a borboleta que voa
interrompe um poema e se declama.
E no meio da briga de meninos
a menina conciliadora clama:
“Gente vamos deixar de ser criança!”
E continuaram brigando.
Libélula planando lado a lado com a bicicleta:
Ou a libélula esta parada
ou a bicicleta esta voando.

Menino (foto Didi Coelho)


Meninos e casulos
Ùteros e borboletas:
Voa menino!
Corre borboleta!

O monte Pascoal
pariu o Hermeto Pascoal
Vulcão musical e labaredas
Hermeto das lavas incandescentes
que lavras com delicadeza
Ser como os pássaros:
Viver nas copas das árvores
mais perto da lua.
Marina em alto mar.
Vivendo seu exílio de lençóis.
Garimpando a fina flor do ócio.
Lá vai a Teca disparando mil fogos e artifícios:
Palavras sorrisos soltos tecidos pelo corpo
plantando aqui e ali alegrias e suspiros.
O céu está florido.
Flores de luz.
A sede
A seca
na boca
Um copo
d´àgua
Um beijo
de anjo.
Todas as luzes apagadas:
Duas pessoas sorrindo no chuveiro
iluminam a casa.
O mundo precisa de nós:
Sóis no breu do que podia iluminar
e ainda não se deu.
Não se espante:
A minha loucura é sacar a tua.
É batata.
Se tem papel e caneta
a danada da poesia pinta.
vou ou não vou?
voo!
A vida é assim:
Na falta de luz a gente (se) ilumina.
Sem esperança levei meus olhos aos céus:
E a lua me sorriu minguantemente.
Uma mosca me acorda todo dia.
Mosca, antes fosse moça
zumbindo na minha orelha.
Laranja que cai da laranjeira
Chuva pretérita
cai novamente de outra maneira.
Que pontaria tem aquela negra nuvem lá.
Acertou uma gota de chuva
na minha cabeça.
Leve, leve...
Seu problema eram as coisas
que não eram nuvens.
Só se for agora:
Jogral de passarinhos
em inédita sinfonia na minha janela

Curandeira

O escafândrio pesado em cobre ela arrasta
A velha mangueira lhe traz o ar
Busca perolas e pedaços de metal
sucatas de barcos afundados
alguns trocados ou uma fortuna
no fundo deste mar de lodo sonha
explorar lugares onde o leite e o fel convivem
no fundo e na superficie de todas as mentiras...
Quando o sol se ponhe ela vem a tona em silêncio
o insustentável anzol fisga-le a indizível palavra
Curandeira de uma cidade de meninos feridos
que ferem brincando brinquedos perdidos

Galanteria Carioca

Velhos galãs de outrora
Envelhecidas musas não perdem o charme
Em seus olhos o eterno brilho do Rio de Janeiro
Em qualquer lugar da cidade
fazem parte da paisagem
como as montanhas e florestas
as ladeiras de Santa Tereza
Quando nos deixam
Depois dos velórios, das rodas de samba
Uns vão direto ao céus do Corcovado
Outros ao purgatório da Lapa

Marginal

Nada de um lado
Nada de outro
Tateando o passarinho atravessa a rua
voar seria mais fácil
Mas o caminho é de asfalto.
Mudar de lado
Buscar o território do desconhecido
Acrescentar um tanto de coragem
Que na outra margem fará a diferença.

world social forum

Lots of things
things a lot
I´ve seen waves of things
Floating in this tide of hope
Eyes staring at the future
Instead of meeting other eyes
Lots of things
things a lot
won´t touch hearts.

Rio Branco

Rio branco às brancas nuvens corre
Longe e bem perto de tudo
Na janela do ônibus o menino lambe o ar
Borboleta espera sinal vermelho para voar
Peixes enrolados em folhas de bananeira alimentam destinos
Barata vira formiga num piscar
Ver as coisas como são:
O verde nos respira

Wicca

"E essa boca cheia de dentes!?"
"É para te comer melhor poetinha"
"E essas mãos cheias de dedos?"
"É para desabotoar melhor todos os teus versos mal vestidos"
"E esses olhos de fome?"
"É para enxergar melhor o horizonte detrás de tuas rimas"

Mil e uma noites

Mudaram-se as flores para o território do silêncio
O amor não sobrevive aos prazos
e tu me destes vários
Contigo vivi intensamente
até a beira de uma nova súplica
Adiando a hipoteca de minhas luas
Todas as mil e uma noites
condenadas a serem a última
Assim também fez Sherazade
cantarolando historias no ouvido do sultão
Como seria te ter então
sem sirenes de fabrica ou os apitos de juiz?
Obstinado o amor espera
que as datas sejam só de início
Borboleta de luz
Mínima bandeirola do sol
Invade lépida o interior da sala
E retorna ao meu relógio digital.
Só sairá daí novamente
No ângulo certo da minha distração.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Marx na Baixada

missa do santíssimo neste domingo
passeata e procissão
missa do santíssimo em nome do socialismo
em todas as indústrias

missa e ocupação de fábrica
a revolução russa mudou a vida do povo russo
e também vai mudar a sua
aleluia!

vai jorrar petróleo, graxa e mel
as indústrias serão nossas
e a classe operária vai ao paraíso
aqui e ali em todos os cantos.

este domingo, missa do santíssimo.
a luta e o culto são internacionais
reunião com os santíssimos livros da revelação
nada poderá impedir a evolução do proletariado

aleluia Trotsky! aleluia Lênin!
Stalin, o anjo decaído reina no inferno
pobre diabo querendo ser santo
sai capitalismo, sai capeta!

missa do santíssimo neste domingo
para comungar pela revolução
que vira para todos
e hoje quero te dizer meu irmão

a transformação que ela fez na minha vida
missa do santíssimo neste domingo
teus camaradas te amam
e têm um projeto para a tua vida.

amado neste domingo
não perca a comunhão
com a palavra, a cruz e a foice
na Europa morreram milhões

para que você se libertasse
desde que vá à plenária
da missa do santíssimo
do santíssimo Marx neste domingo

Lagoa

Do alto é linda.
De baixo mais ainda
Mas é pra poucos:
"Poucos é muito?"
"É muito e eu faço parte".
(No século dezessete
navios de todos as bandeiras
se acotovelavam na baia da guanabara)
"Como não posso?"
"Não Antonio, não é para você"
"Nosso canto é cá em cima mais perto das nuvens e de deus."
"Mas daqui é tão bonito mãe"
"É violento, é babilônia filho..."
"Mas eu quero!"
Ícaro ao reverso desce leve
menino franzino eletriza a lagoa
desce o morro, que sina
ensina que cidade é de todos

O Ar e o Barro

o ar invade uma caverna...
se perco a consciência advêm outra mais forte
tudo que se passa a minha volta
comunica-se por meios diretos e sem intermediários
Podia ter nascido chinês ou analfabeto
estou completo
sou todos os habitantes do planeta
sei contar a historia do mundo
sei dizer de meus ancestrais
e de como serão meus descendentes futuros
nada me é estranho
sei dos planos dos deuses
e que não precisamos deles
o ar é o único deus
não há nada a ensinar ou aprender
Digito em meu laptop
antes fazia fogo com gravetos
amanha passarei férias em marte
que me importa o que me cerca e passa
sou do mundo nao sou de mim
uma consciencia frágil ainda me dá um nome
não tenho nome nem idade
não sei o que é felicidade
o ar me desperta nesta madrugada
invade esta caverna dissipando sombras
e todo pensamento triste se recolhe aos recônditos do barro
o melhor dos melhores lugares do mundo o barro sabe
o melhor é a vida

Quase

quase é quase lá
quase todos sabem
que quase é quase nada
numa cidade quase maravilhosa
despertada por balas certeiras
neste ano quero paz no meu coração
e ainda essa raiva sem grito
essa revolta quase sem volta
com cerveja gelada e maracanã lotado
num cotidiano de corpos quase bonitos
uma felicidade feita de quase vitórias e muita sorte
quase por um triz este azar sempre presente
o quase hospital
a quase polícia
o quase jornal
a quase justiça
é quase mentira todas as fomes e sedes
num pais quase rico.

domingo, 2 de agosto de 2009

Mãe (para dona Jájá)


Todo mundo tem mãe
O mundo têm jeito?
Nem todos lembram
dos berços e manjedouras
coisinhas de brincar
Todo mundo tem mãe
nem que seja a mãe do mundo
seja ela quem for...
Todo mundo tem herança
nem que seja no corpo
Na alma vive a mãe esperança
de onde até o inesperado bebê
pode nascer e ter infância
seja lá como for...
Todo mundo tem mãe
nosso eterno denominador comum
O mundo têm jeito?
Tem mãe!

ocf

(Cândido Portinari, "Mulher com criança" 1936)

A incrível casa de Valeria


tua casa é do lado
tua casa é dentro
colada um adendo ou capítulo
no meu livro na minha página
e passa o tempo
tua casa fica distante
fica do outro lado de mim
o lado que não lembra
o lado de fora
a milhares de horas daqui
tua casa é sábado
plano de almoço e café na garrafa térmica
tua casa é varal no sol
teu sorriso de roupa branca
e passam os dias as semanas
tua casa é minha
é casaca, caverna e palácio
tua casa é infinita
é pinga da áfrica do Sul
as linhas marcadas de nietzsche
teu cigarro e teu licor
o vinho esperando os amigos
a próxima calcinha
a foto nova no jornal
a trepadeira equilibrista
a próxima nuvem no teu olhar
tua casa é mistério e labirinto
sertão de guimarães rosa
corredor de espelhos
esconderijo, refúgio e silêncio
antes eram minutos agora levo meses
para cruzar este hiato
e quando chego vejo tua casa destelhada
dizem que foi para a argentina
ou para ibiraçu onde é amiga do rei
tua casa o furação levou
agora é nômade, é livre
me despejou, me deixou
no meio do verso
no meio da rima e sem computador
tua casa tem rodas
vai aonde eu não vou
lá pelo quiilômetro 47
e já segue para o interior
ou foi para o México
será que ama um norueguês?
ou, abriu uma casa de doces?
foi vista em amsterdã e parecia feliz
ainda voltei àquela casa
que casa?
a trepadeira sumiu
o grito de clara
os passos na grama
eu mesmo não me encontrei
tua casa é agora em mim
nela vou fazer o que eu quiser
vou te colorir de azul
cortar, colar efeitos de software
fazer chover no teu quarto
completar o que ficou no meio
deixar pelo meio
o que não devia ter chegado ao fim
tua casa agora é sonho

Gastronomia e Poesia

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