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terça-feira, 30 de abril de 2024

O Homem Vitruviano

No homem vitruviano

os sumos corporais abrem sulcos

sob a graça dos anjos

que regem as águas do céu e dos corpos


Cada canto da terra flui sua constituição

na direção do útero eterno

O mar pulula de diversidade

Em algum local ermo e isolado


onde floresce um passado

escondido e freático

dos mamilos da pedra

goteja o leite mineral da vida

terça-feira, 23 de abril de 2024

Gastronomia e Poesia

Decisão tomada em família:

será servida nos cafés da manhã

a mais bela poesia desta e de outras terras


Para harmonizar a novidade

infinita de cada manhã

um poeta diferente da estante sairá


para celebrar a refeição matinal

(nem sempre gastronômica)

mas sempre inspirada pela alvura


do novo dia que se inicia

Da-me um pão quentinho

que eu te direi uma de Vinícius de Morais


Um gole de café bem tirado

combina com a poesia de Manoel de Barros

A banana nossa de cada dia pede


a inusitada presença de um Garcia Lorca

cujas metaforas sonoras e solares

adoçam qualquer receita


Para que tudo dialogue 

com Jorge Luis Borges

a saborosa mantreiga portenha


que envolve as palavras em versos

como em um tango casto e mágico

Bom dia!

So What

So what?

Tic-tac...

Then, it goes the bomb

The human bomb

While there was few enough space

to all

No space for the blacks

No space for the yellows

So what?

In the meantime, let´s organize

the smooth revolution 

Eating out the old mental maps

Yeah!

Tic-tac...

Then, the jazz will hollow their brains out

So what?

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Brasília 2647

No ano de 2647, o poeta visitou

uma superquadra de Brasília

distante uns 600 anos dos jornais de hoje

(daqueles tempos da mudança climática)

Brasília a que seria o berço de uma nova civlização

como nos disse o italiano Dom Bosco, em 1883

encontrava-se sem rumo e paraíso

em choque entre a distópia e a realidade


O Antropoceno seguia seu passo resoluto

acompanhado da mais avançada tecnologia:

plantas artificiais aprisionam a energia do sol

Impera o céu cinzento no planalto central

Dilapidado o Cerrado por completo

nada sobrou das promessas de anos dourados

quando se duvidava 

que o clima da Terra irá se desestabilizar


O futuro das belas palavras

das ciências e da diplomacia não nasceu

Há disputas ao longe nos cataventos no deserto

que circundam o avião de Niemayer

Vive-se mais nas gaiolas de concreto

do que nos gramados agora de silício

Observo arentes no mesmo apartamento

fatiado em kitnets e janelas


O poeta é tomado da justa verve

de quem teve a beleza roubada:

"Vocês deixaram isso acontecer!"

"Vocês deixaram isso acontecer!"

O planeta agora é completamente humano

cercado de abismos e ambições

Somos enfim a imagem e a semelhança

de nós mesmos e nada mais


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Pensar

esse pensar sedutor

ainda vai nos levar além...

logo ali a lugares tão próximos

quanto distantes de nós 

pensar este açúcar

no ponto de ser colhido

no cruzar das pernas
 
em seu caminhar sensual
 
aquele que o busca

é o buscado

a presa a ser apaixonada

pelo chamado vital

esquarteja-lo é perde-lo

definir-lo está aquém

de todo desentendimento

Amor

o amor te leva através do espelho

nesse buraco de coelho

tua Alice despenca de si mesma

de verde e amarelo

para viver a queda perfeita

o amor está diluido no ar 

sua qualidade é impregnada de nadezas 

não fatie o amor em categorias científicas

É questão de intensidades e densidades

pobre daquele que tiver

olho maior que a barriga

que amor demais dá coceira

amor de menos dá tristeza

sua quantidade deve ser justa, precisa

quem não pode caçar javali

que é amor demais

que vá colher borboletas

pois quando batem as asas 

fazem uma tempestade no japão

É questão de precisão e generosidade

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Ninguém

O ninguém resolveu poetar em mim

Não é fácil como parece

Arremesse palavras na folha branca

Digite uma imagem

que não tem na cabeça de ninguém


Poetar como ninguém

Parece simples mas não é

O ninguém é livre de corpo

história, identidade, parentes

Poetar como ninguém


Poetar para ninguém

é atingir o suprassumo

da mínima palavra

do mínimo som

do átimo do divino


que tudo cria do nada

decompondo-se do quase 

mas passando ao largo 

da boiada e do vulgo

para desfazer ninguém de sentido

O Homem Vitruviano

No homem vitruviano os sumos corporais abrem sulcos sob a graça dos anjos que regem as águas do céu e dos corpos Cada canto da terra flui su...