Amanhã é outro dia

Quem viveu a dura vida

sonha a descendência ao longe e sem lembranças

das reminiscências dos avós e suas estórias

Escravidão na terra de Vera Cruz

não é coisa boa de contar

Sai apenas um grito mudo
as águas do velho rio já se misturaram ao mar...

Vontade louca de prosperar

Fugir desse sufoco fichado, regulamentado

Depois 40 horas por semana para começar a contar
a cor, o som e o cheiro da labuta

Vai estudar menino
mas se a educação não rima com liberdade

ensinou freire oprimido vira opressor... 

Roda da fortuna segue esmagando infâncias

Vai estudar menina ou ao menos case direitinho

com homem trabalhador e temente a Deus

Nunca ande com quem engana nessa tal disputa de classes...

É bestagem de gente que não trabalha

o que existe é preguiça e fé amolecida

Allahu Akbar! Allahu Akbar! 

Amanhã é outro dia
outra história de um mesmo livro que dói folhear

Líquido e certo:

Águas sem certezas

preenchem vazios

10.000

Prestes a tomar o elevador
com mais de uma centena de humanos
de todas as orientações, credos, opções
cores, vontades, torcidas de futebol, 
preferências de filmes, novelas, marcas de roupas, 
computadores, roupa íntima e desejos de uma vida diferente
que pode estar ao lado ou ao fundo
deste elevador que parece um imenso pássaro...
Em instantes, a 10.000 metros de altura
o metálico pássaro transformará a todos em alpinistas 
com roupas de quem vai ao banco
à escola, ao medico, ao mercado...
Em instantes, de uma explosão
seremos lançados aos altos píncaros 
como se estivessemos sentados em frente á TV.
Pessoas e cidades louvam seus pássaros de ferro
Se o tempo é dinheiro e a espera desespero
há algo do divino nesse ritual corriqueiro
Que cada um voe ligeiro nas costas deste pássaro 
para cumprir na vida sua missão de passageiro