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domingo, 29 de abril de 2018

A rosa e o barro

Escavar nos olhos
mãos e pés no barro
No calor das palavras
fazer soar ritmado
o barro que renasce
músicas ancestrais, parábolas e cânticos
na busca do tocante silêncio

Hai Kai para a Lua

Dóis pássaros em pleno vôo
viram-se para ver a lua cheia
Eu em plena bicicleta
também me viro para vê-la 

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Á Beira de um Ataque de Rimas

Agora é que são elas
As poesias não querem mais a fria tela de vidro
nem os downloads que viajam pelo ares
sem parar nem conhecer caminhos

Elas querem fazer passeata
roubar o chapéu do rei
regar desertos com versos
Não querem aterrissar no papel

Por mais branco e puro que seja
as poesias estão à beira de um ataque de rimas
Não querem diálogo com o silêncio
querem vasculhar os cantos esquecidos da cidade

para declamar o poema da fragilidade urbana
As poesias estão prontas para o combate
no lugar e na hora que a realidade
aceitar o desafio

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Homo sapiens poesis


Miríades de células, veias e sangue
compondo do caos um cosmos
corpo que percebe a poesia
mas começou outro dia
á articular os ossos e os músculos da face

para fazer vibrarem as cartilagens
para descrever nadezas e abstrações
coisas que não existem no mundo das pedras e dos escorpiões
para fazer o poema foram milhares e milhares de anos
para explicar-lo ainda vai demorar um tanto

outros milhares a mais
enquanto isso versos caem das árvores
atravessam galáxias e brilham estrelas

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Pilotis

Posso namorar no pilotis?
O vento pode e faz
Posso conversar no pilotis?
O vento passa e assovia
Posso ouvir música no pilotis?
O vento dança um pas-de-deux
Posso dormir no pilotis?
O vento descança nas curvas de Niemayer
Posso recriar o pilotis?
O vento é filho das tensões planetárias
Posso grafitar o pilotis?
O vento leste leva as verdades para o oeste
Posso resignificar o pilotis?
O vento transpassa os corpos e a arte

África-Utopia

África neon
Futurista e livre
Longe do escanteio da dúvida 

África anseia por tudo ser
Imensa mãe da vida
pulsa ainda chama de lamparina

Nunca vai apagar
Queima por dentro África
faz-se dança e ingênua

Para sobreviver ao arbítrio 
dos senhores que desconhecem
a beleza da mágia dos Orixás

O que te prende ao passado África
foi arrancado do frondoso baobá do tempo
É africanidade: presente!

sábado, 7 de abril de 2018

Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar (Agosto , 1964)


Entre lojas de flores e de sapatos, bares,

        mercados, butiques,

viajo

        num ônibus Estrada de Ferro – Leblon.

        Volto do trabalho, a noite em meio,

        fatigado de mentiras.

O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud,

relógio de lilases, concretismo,

neoconcretismo, ficções da juventude, adeus,

        que a vida

        eu a compro à vista aos donos do mundo.

        Ao peso dos impostos, o verso sufoca,

a poesia agora responde a inquérito policial-militar.

        Digo adeus à ilusão

mas não ao mundo. Mas não à vida,

meu reduto e meu reino.

        Do salário injusto,

        da punição injusta,

        da humilhação, da tortura,

        do terror,

retiramos algo e com ele construímos um artefato

um poema

uma bandeira

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Noite Veloz (abril de 2018)


Dentro da noite veloz

sexta-feira, 6 de abril

Anoitece São Bernardo cercada de esperanças

Um corpo imperfeito feito em Garanhuns, Pernambuco

está no segundo andar do prédio do sindicato




É um corpo desfibrado

mas encorpado de milhares de vontades

O primeiro emprego

A faculdade

O primeiro cliente



Anoitece e a polícia de longe observa a multidão

que bloqueia a violência

Bem aventurados os que creem e lutam

pois não há outra opção

Dentro da noite veloz

perto da fabrica da Volks e seus 40 mil operários

hoje apenas 400 trabalham vigiados pelos robôs




38 anos se passaram desde a última prisão


A China não compra mais nossas doloridas commodities como antes

O novo governo do norte cobra alianças jurídicas


Volkswagen, General Motors, General Eletric

o orgulho dos italianos que aqui chegaram

com uma ferramenta na mão e um sonho no coração

agora bate descompassado esperando a hora da prisão





Este grande pedaço da América do Sul está diferente

mais consciente apesar da inconsciência ainda


Escondidos, ou a paisana, agentes do estado esperam a hora

de encarcerar a história do povo brasileiro

Luís Inácio está cansado...





"Se entrega Luis Inácio!"

"Eu não me entrego não!"

Esta velho e diabético

mas a ideia de um Brasil mais doce encontra-se no segundo andar

velada e adornada como o bebê que não nasceu mas vai nascer





Coisa delicada é o coração do povo

Além da noite veloz em São Bernardo

surge a grande noite sulamericana

onde milhares de trabalhadores irão dormir  esta noite com fome

fome de justiça negada
secularmente




Gastronomia e Poesia

Decisão tomada em família: será servida nos cafés da manhã a mais bela poesia desta e de outras terras Para harmonizar a novidade infinita d...