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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Recomeço

O medo do coral jovem enfrenta

a primeira tempestade marinha

O receio da pequena águia

antes de seu primeiro voo

Mas essa não é a primeira vez que vou...

Sou copo vazio

flutuando na superfície de um lago 

Perdoar faria de mim uma taça

para o vinho novo

Do presente me afasto

felino que atravessa a noite 

fugindo da lua





terça-feira, 18 de agosto de 2020

Jerusalém

Escrevo porque Jerusalém me pede

Escrevo para não esquecer

do portão de Damasco por onde os árabes

entram na cidade antiga

no redemoinho da história humana


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


O som em árabe ressoa pelas ruas estreitas

o mundo inteiro por apenas dez shekels

Pessoas de todas as latitudes

se esbarram e seguem sua historia


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


Tecidos esvoaçam no céu azul

o cheiro do pão fresco perfuma os cabelos

amêndoas, tâmaras e damascos são flores 

nas bancas dos vendedores

nas esquinas a romã é espremida na hora


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


Tudo parece estar liquidando ou liquidado

especiárias, mercadorias, vendedores aos gritos

a cidade é um lázaro que renasce todas as manhãs

Do portão estende-se um labirinto de caminhos

que me fazem sonhar acordado


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


Tudo que é fundamental está disponível

a todos os homens e mulheres

O sol acaricia mais uma vez 

as paredes carcomidas pelo tempo:

um convite a fazer uma nova história


"Eshrt! Eshrt! Eshrt!"


O mundano, o trágico e o eterno

plantas recém-nascidas crescem nas frestas dos muros

enquanto oliveiras ancestrais observam da colina 

um caldeirão imenso e imemorial:

o espetáculo humano


segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Navegar é preciso (para Carl Jung)

Jung devia estar sonhando

quando revelou (-se) o inconsciente coletivo

Este que nos habita

coloca no mesmo ônibus

no mesmo sistema operacional...

Quando acordou percebeu

que o conhecimento era uma quimera

Toda a historia humana está inscrita no corpo

Balbuciou: "O consciente é um rolha

boiando no oceano do inconsciente"

Pensar é construir um barco a vela

para atravessar o oceano

entre a dúvida e a pergunta

Se o barco-ideia sabe navegar

a consciência embarca

nas margens deste universo mágico

Milho

Sou no milho 

O milho é em mim

Receita gastronômica 

que nenhum chef entenderá...

O milho é meu irmão

Sou filho do milho

Quando alta a espiga desponta no céu

o milho amarelo como o sol

agradece a todos pela sua criação

O milho nem planta é:

metáfora do universo

Quando nele nos saciamos

ele se apodera de nós

Somos tudo que podemos ser

nos sonhos do milho



domingo, 9 de agosto de 2020

Destinos

Meu destino eu sinto

precinto uma brisa

que vem do sul e vai para o norte

Por onde passa refresca

traz e leva pássaros 

recados, chuvas e presságios

Meu destino é quase nada

ar em movimento

Traz palavras, idéias e sussurros

de um outro mundo

Aonde nasce o destino meu?

Nasce do moto-perpétuo

de todos os destinos da terra

um impulsionando o outro

dando voltas no globo

Corrente infinita de trabalhos

na recriação da vida

essa magia que nos habita

Gastronomia e Poesia

Decisão tomada em família: será servida nos cafés da manhã a mais bela poesia desta e de outras terras Para harmonizar a novidade infinita d...