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terça-feira, 20 de outubro de 2020

As Cigarras

O defunto Araticum renasce Lazarus

Brotos despontam em galhos ossificados 

O tronco está cravejado de esqueletos dourados 

das cigarras que não couberam em si

(no Cairo, a múmia do faraó Tutankamon 

coberta de gatos e besouros pretos de madreperola

ainda espera pela primavera)

A sirene de um iminente bombardeio 

de vida sobrevoa as copas das árvores

Voa longe o clamor pela novidade

dentro e fora das cigarras 

que não cabem em si 





sábado, 10 de outubro de 2020

40 anos (para Renato Coelho)

Quatro décadas

ou quatro milhares de anos

desde que bateram na porta do coração?

Um encontro notável assim demora

não acontece por acaso

Inusitado traz em si o susto

de atravessar o corredor que separa tribos e cidades

Encontro assim não é fácil:

40 vezes 40 vezes 40 vezes 40 

chances de nunca passar...

Mas o cometa não falha ás vezes tarda

O universo tem infinitas casas

o renascido veio habitar a nossa

Aleluia, aleluia, aleluia!

Damos graças aos deuses

pelo presente tão desejado

A alquimia se cumprirá

A justiça será recobrada

Aleluia, aleluia, aleluia!

O Poeta aceitou o convite

A vida convidou o poeta para transformá-la

Ele aceitou embelezá-la

mesmo não sendo operário

pois não sabia manejar o concreto

mesmo não sendo político

pois não sabia articular os esquemas

mesmo desconhecendo os mistérios da religião

sem saber invocar o espírito do povo

mesmo não sendo rico

sem poder alugar as consciências


Afiou os versos

abriu o coração como um satélite

recebeu as emanações da verdade

Durante os mitológicos trabalhos da renovação

foi acusado de crimes e mal-feitos:

charlatão, enganador, falso-profeta, e ladrão

As pedras escondidas nos corações

foram arremessadas em seu corpo de estrelas

transformando-se em planetas que orbitaram

a melodia que animava o coração do poeta


Terminada a tarefa retornou a sua casa

metralhado de palavras más

Com os sentimentos imperfeitos

construiu uma cidade comum

onde moram as pessoas tristes e desconfiadas


Tal cara e coroa de uma moeda de prata

a bela cidade tem em algum lugar (e vice-versa)

sua contra-prova imaginária:

tudo o que seria se não fossem os poetas


O Poeta e o Nada

a sombra que me cruza o olhar

desvia e vaga pelo mundo

o mundo triste das criaturas

que só sabem ser


quando a luz me atravessa

a consciência do nada vem

como esta noite

que chega despercebida


sei que nada tenho

de posses desprovido

tenho essas poucas palavras

que me visitam como os cometas


como pássaros nos galhos

que roçam a janela na ventania

o ar quente dos trópicos

faz as palavras flutuarem


como folhas secas rodopiando

em uma praça sem nome

as vezes canso deste mundo

canso dos ponteiros do relógio


no riacho escondido na mata

respiro mais uma vez

outra, e mais uma

sou um homem humilde


de um lugar não escolhido por mim

tenho medo de sofrer de realidade

suspiro versos e sigo:

sou poeta





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