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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Anatomia Poética

Vou pegar do punhal
Vou rasgar de fora a fora
da goela ao pé
passando pelo cóccix
abrindo do externo ao umbigo

para separar entre tripas e bofes
vestígios de palavras
Buscar a essência
como em Spinoza, Goethe e Hegel
mas á moda medieval

Ir ao amago
onde mora a verdade
entre vasos, ossos, peles
Catar letras e onomatopeias
jogar sobre uma mesa fria de mármore

espalhar as partes todas
para encontrar a origem
a inspiração
a fagulha da poesia
Esquartejar á moda dos anatomistas

para entender esse mistério
de existir e comunicar
Letra por letra
cada tipo de som
O corpo assim decomposto

em partes menores
pode ensinar que as partes juntas
são menores que o todo
que as letras são menores que as palavras
as palavras menores que os gritos

os gritos menores que o silêncio
Assim desfeito o corpo
como faria Da Vinci
sob a inspiração de Descartes
revelaria que tudo isso junto

nunca sai de moda
Sempre uma surpresa
um espanto
o que isso tudo soa
como uma caixa de sons

de ossos
Tudo isso junto
mais que corpo
talvez  alma
comunica-se com o insondável

anda pela rua
acorda e vai comprar pão
mas no fim do dia (ou no meio)
um sol pode surgir no fim da avenida Consolação, São Paulo
para que tudo isso, ou quase tudo isso, seja feliz

Tanto lá quanto aqui

Há milhares de anos luz da Terra não se sabe o que acontece por lá Mas tambem por lá ninguem ouvi falar do planeta azul  Quando se diz mundo...